Estou ficando enjoado...

Sintomas de uma gravidez desejada

Neste último fim de semana aqui em Recife houve um congresso de avivamento promovido por um dos ícones da mídia gospel nacional. Eu não fui e não gostaria de expressar o que senti por não ter participado, mas não consigo calar meus pensamentos em relação aos rumos que estão dando ao evangelho de Jesus Cristo.

Não quero ser mais um da turma do contra, que critica muitas vezes apenas para mostrar a sua  crítica, nem sou daqueles que é avesso a todo e qualquer tipo de novidade ou modismo no meio evangélico, pois creio em um Deus que é inspirador e que deu dons e talentos aos seus servos para o crescimento do reino.

Os melhores ambientes são alugados, a iluminação e sonorização são profissionais, nos deparamos com verdadeiras super produções que encantam aos olhos dos servos de Deus que pagam ingresso para receber o que de graça foi dado por Deus aos ministradores  nestes eventos.

Os pregadores da mídia são a atração, com sua eloqüência,  carisma  e suas técnicas de condução  e domínio de grandes públicos, garantem a benção do negócio, digo eu, do evento.

Mensagens  bem elaboradas, cheias de apelos emocionais e frases de efeito e muitas vezes com doses excessivas de auto ajuda,  enchem o coração dos ouvintes de esperança e de expectativa de solução de seus problemas.

Os pastores e líderes locais, que estão neste público sentem-se atraídos por estes gigantescos  e desejáveis ministérios , e saem destes lugares contagiados por uma ambição perigosa em seus corações e para seus ministérios.

Eu creio que Deus nos dá grandes visões e sonhos e que nos faz andar em lugares altos,  pois estas promessas estão escritas em Sua palavra. O que me preocupa é a interpretação delas, quando influenciada pela natureza humana sedenta de glória para si mesma.

Para tentar entender isto, vou às escrituras e procuro na vida e história de Jesus Cristo as ambições ministeriais e estratégias semelhantes ao que vejo hoje. Não encontro. O que leio e entendo do ministerio de Cristo, que é o cabeça da igreja, é uma atitude anti-fama e de fuga desta necessidade de aparecer grande entre os homens. Talvez porque ele  realmente seja grande, não sinta esta necessidade.

Leio sobre um Cristo que antes de iniciar seu ministério foi levado pelo Espírito  para ser tentado no deserto, o diabo o  levou até pináculo do templo e propôs, em outras palavras,  que Jesus inciasse sua aparição pública de forma triunfial, saltando do pináculo sobre o templo.  Tendo os seus anjos lhe segurando para que não tropece em nenhuma pedra Ele apareceria diante dos homens como um legítimo filho de Deus e  desta forma todos veriam o seu poder e autoridade e não duvidariam  dele.  Mas vejo Cristo resistindo, vencendo a tentação da ambição em ter um ministério super pop, quando este não é de acordo com a palavra do Seu Pai. Vejo em outros momentos  um Jesus que faz  questão de não ser popular, de não estar alardeando suas curas e milagres e que pede para o ex-cego e ex-leproso não comentarem o que Ele fez em suas vidas. Hoje assisto o inverso desta promoção do Reino,  quando tantos ministros   gastam muito tempo entrevistando e exibindo em filas as curas e milagres nos fiéis.

Este meu enjôo melhora um pouco quando aspiro por um tempo em que o evangelho seja  despretensioso de estar na mídia, em que  a sua maior estratégia de crescimento seja o amor  e poder de Deus que se propaga de forma pessoal, praticada por cada membro do corpo de Cristo. Anseio por uma igreja em  que  dia a dia o Senhor vai acrescentando os que vão sendo salvos, e esta comunidade caindo na graça do povo  pelo seu  amor,  sua unidade,  sua comunhão e o partir do pão com os necessitados.

Fico esperançoso em chegar o  tempo em que veremos um grande evangelho avançando nas mãos de milhares de pequenos ministérios itinerantes e desprovidos de fama ou promoção. Hoje vejo um pequeno evangelho sendo conduzido por grandes e famosos ministérios que usam por muitas vezes o crescimento e a fama como alimento para o ego dos seus líderes, que já partilham em suas placas denominacionais o seu nome com o de Jesus Cristo.

Gosto de fazer contas, e algumas vezes paro para pensar em quanto custa cada minuto de programa em uma rede de televisão a nível nacional, sei que são valores altíssimos usados para expor um evangelho que poderia  e deveria ser feito por cada membro do corpo de Cristo nos quatro cantos deste país. Parece ser mais fácil e cômodo aos fiéis ser um associado, um auxiliar ou colaborador de um programa evangelístico do que ser um evangelista no dia a dia. Isto, por acaso seria a terceirização da mão de obra evangelística?

Imagino o quanto a igreja de Jesus Cristo  impactaria ao mundo, se estas mesmas quantias de dinheiro  fossem utilizadas para promover a verdadeira religião que, como diz Tiago em sua carta, consiste em ajudar aos órfãos e viúvas em suas necessidades?

Espero que este meu enjôo seja um dos sintomas de uma gravidez por mim desejada, que prepara o meu coração para o [re]nascimento deste sonhado evangelho  autenticamente bíblico, guiado exclusivamente pelo Espírito de Deus e direcionando a Deus toda a glória, fama e reconhecimento. Peço ao  Pai ousadia para  assumi-lo, e defendê-lo diante de uma geração que faz questão de abortá-lo.

Com amor e graça,

Dailson