O último domingo foi marcado por muitas homenagens às mulheres em seu dia internacional,e apesar de pessoalmente não concordar com esta enxurrada de homenagens em um único dia do ano, me serviu para prestar mais atenção na figura da mulher, principalmente no contexto em que vivemos.
Esta homenagem não está sendo feita fora de época, pois não acho que só um dia é suficiente para reconhecer um ser tão especial e tão influente neste mundo. Não estou me sentindo obrigado a falar por conta do dia 8 de março, mas esta data me despertou a ver com mais sensibilidade estas tão doces companhias do meu dia a dia.
Por não estar trabalhando na parte da manhã, resolvi hoje lavar meu carro em um movimentado lava jato de rua, numa pequena praça do bairro do Rosarinho. E, como de costume, enquanto lavam o meu veículo a céu aberto, fico em um dos bancos da praça lendo algum livro ou fazendo alguma tarefa inacabada do meu dia. Mas hoje foi diferente, pois ao invés de um garoto se oferecer para a lavagem, apareceu uma jovem mulher de menos de 24 anos de idade se prontificando para o serviço. Confesso que achei estranho, pois sempre vi pessoas do sexo masculino nesta função, e comecei a observar o trabalho dela em comparação ao dos outros na mesma praça.
As surpresas se acumularam em minha mente ao ver como aquela figura feminina dava um toque de beleza e delicadeza a um serviço aparentemente tão rude. Ela estava com uma roupa [provocantemente?] curta, que ressaltava a beleza e jovialidade de um corpo atraente aos padrões atuais de beleza, embora os traços de falta de cuidado com a pele e o cabelo estivessem na composição. Sempre com um sorriso no rosto e uma disposição invejável para mim que acabara de almoçar, ela começou o seu serviço e me impressionou a graça com que realizava tudo, em comparação com os outros rapazes, que agiam de forma tão comum. O cuidado com o uso da água me chamou a atenção, e ao final ele deve ter gastado quase a metada do que seus colegas de trabalho. Ao aspirar o carro fez de uma forma que me impressionou pela atenção nos detalhes, e aspirou partes do interior do veículo que nunca foram lembrados pelos outros.
Para minha maior surpresa, ela foi interrompida com a voz meiga de uma criança de aproximadamente 4 anos de idade, que brincava na praça nas proximidades do carro e que a chamou de mãe, lhe mostrando um desenho rabiscado e lhe pedindo a avaliação.Não esqueço aquela cena de uma jovem mulher, que por segundo cessa sua árdua tarefa para colocar um sorriso no rosto e desviar sua total atenção à filha lhe tecendo um rápido, mas expressivo elogio àquela obra. A criança volta feliz ao seu atelier natural, sentando no terreno arenoso do chão da praça e brincando alegremente com a areia fina que era agora a sua matéria prima da próxima obra de arte.
Comecei a não apenas observar, mas a meditar sobre o dia inteiro daquela mulher. Ouvi em comentários dela com outra amiga e com a cliente de outro carro que estava sendo lavado, que ela revelou que não tinha com quem deixar sua filha, então ela mesma levava à escola, e ao trazer de volta a menina, ficava na sua companhia até o fim do expediente. Não sei descrever se esta informação me causou mais tristeza ou admiração.
Aos poucos fui percebendo as demais barreiras em seu ambiente de trabalho, que eram com muita classe sendo superadas uma a uma por um ser que tem o estigma de ser chamado de sexo frágil. Reclamava do colega de trabalho que pegava sem seu consentimento um de seus baldes, o que lhe atrapalhava o serviço. Administrava as cantadas diretas, indiretas, indiscretas e até indecentes de alguns dos homens que estavam na praça esperando seus serviços, e sem esquecer que a filha já lhe apresentava a esta altura sua quarta ou quinta obra de arte, as quais todas lhe garantia atenção e um sorriso mágico, mesmo que durasse apenas alguns segundos.
Passei a pensar na rotina daquela mulher fora daquele ambiente, se a mesma vive com alguém ou é mãe solteira, sendo responsável pela preparação da comida para todos de casa, por lavar a roupa suja de cada dia, por arrumar o local onde mora, por ainda fazer as infindáveis tarefas de casa da sua princesinha.
Mas, ela continuava com maestria e beleza seu trabalho, agora polindo o carro, conversando com a amiga, olhando com proteção para a sua filha, rindo e se esquivando das cantadas sem graça, além dos milhares de pensamentos que certamente borbulhavam em sua mente enquanto tudo isto acontecia.
Hoje eu vi uma verdadeira guerreira digna de ser homenageada, uma mulher que posso chamar de virtuosa, mesmo que não possua todas as qualidades descritas em Provérbios 31, mas que dentro de sua triste realidade social e econômica mostrou uma postura digna de reconhecimento. Não estou com isto renegando as homenagens às outras mulheres, as quais com certeza, merecidamente receberam em seu dia, porém me senti tocado por Deus para reconhecer estas que a sociedade não reconhece, que vivem marginalizadas pelos meios de comunicação e mídia, mas que nem por isto têm menos valor ou virtudes.
Quero homenagear a estas mulheres, guerreiras, batalhadoras, vivas, mães, donas de casa e que muitas vezes enfrentam o papel de ser pai e mãe e que ainda faz isto com muita disposição, beleza e delicadeza que só existem no universo feminino. Parabéns a toda esta criação de Deus, que se supera a cada momento, e colore de beleza e graça um mundo acinzentado com a maldade humana.
E como parte da minha homenagem, uma canção muito apropriada...
Mulher
(Erasmo Carlos e Narinha)
Dizem que a mulher é o sexo frágil
Mas que mentira absurda!
Eu que faço parte da rotina de uma delas
Sei que a força está com elas...
Vejam como é forte a que eu conheço
Sua sapiência não tem preço.
Satisfaz meu ego se fingindo submissa
Mas no fundo me enfeitiça...
Quando eu chego em casa à noitinha
Quero uma mulher só minha,
Mas prá quem deu luz não tem mais jeito
Porque um filho Quer seu peito.
O outro já reclama a sua mão,
E o outro quer o amor que ela tiver.
Quatro homens dependentes e carentes
Da força da mulher...
Mulher! Mulher!
Do barro de que você foi gerada
Me veio inspiração prá decantar você nessa canção.
Mulher! Mulher!
Na escola em que você foi ensinada
Jamais tirei um 10, sou forte mas não chego aos seus pés.
Com amor e graça,
Dailson